segunda-feira, 5 de novembro de 2012

A Demissão do Pássaro

Ele veio preparando esse terreno já faz um tempo, pois poderia, de verdade, precisar aterrissar nele. Um tanto cambaleante - como quem voa por tanto tempo e, de repente, é mandado parar -, precisou descer de paraquedas e correr. Correr com a papelada, exames médicos e todas aquelas formalidades que mais parecem humilhação. Correr a pé, pois também já lhe tiraram o meio de transporte terrestre, além das asas. Precisou erguer a cabeça para acalmar àqueles que lhe querem bem. Porém, eu percebi que seus olhos estavam mais brilhantes, mais líquidos - ele não queria ter descido de paraquedas! Pensei. Queria mesmo era ter desabado por uns instantes, jogando tudo e todos pro ar. Foda-se essa vida de pássaro, anos e anos atrás de minhocas e agora, por deixar escapar uma, lhe tiram da função. Duvido que existam pássaros mais bem apanhados, com penas mais lubrificadas e com o bico sempre a disposição pra caçar as tais minhocas. Porém, uma cousa é certa: o pássaro já não estava feliz. Acho até que lhe mantinham preso em uma gaiola às vezes. Estava na hora de virar humano outra vez, voltar a ter grandes pulmões e inspirar novamente. 

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