sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Je Vous Salue, Sarajevo


De certa forma, o medo é a filha de Deus redimida na noite de sexta-feira. Ela não é bela, zombada, amaldiçoada e renegada por todos. Mas não entenda mal, ela cuida de toda agonia mortal, ela intercede pela humanidade. Pois há uma regra e uma exceção. Cultura é a regra e a arte, a exceção. Todos falam a regra: cigarro, computador, camisetas, televisão, turismo, guerra. Ninguém fala a exceção. Ela não é dita, é escrita: Flaubert, Dostoyevski; é composta: Gershwin, Mozart; é pintada: Cézanne, Vermeer; é filmada: Antonioni, Vigo. Ou é vivida, e se torna a arte de viver: Srebenica, Mostar, Sarajevo. A regra quer a morte da exceção. Então a regra para a Europa Cultural é organizar a morte da arte de viver, que ainda floresce.
Quando chegar a hora de fechar o livro, eu não terei arrependimentos. Eu vi tantos viverem tão mal, e tantos morrerem tão bem.
Jean-Luc Godard

sábado, 20 de outubro de 2012

Sobre textos inacabados


Esqueletos de textos estão espalhados por aqui. Eles me aterrorizam com as suas pseudoexistências,  pois sei que já não vou conseguir tecer o restante de seus corpos. Assim, ficarão esquecidos feito cadáveres. Pensei em mandá-los para a “indústria de ossos” - ou lixeira, como usualmente chamamos -, mas seria cruel demais jogar fora partes que já compuseram um pensamento, seria como descartar um pedaço orgânico da memória, e eu nunca faria isso conscientemente. Mas...Plaft. Aqui vai mais um ossada.