segunda-feira, 23 de abril de 2012

Retweetando sem Twitter

"E essa é a condição principal do absurdo - obrigar uma consciência transcendente não convencida e ficar a serviço desse empreendimento imanente e limitado que é uma vida humana."
http://guess-i-am-outta-time.blogspot.com.br
Não sei de onde veio, amigo. But I love it.

terça-feira, 10 de abril de 2012

Dual

Se até as pessoas próximas não fossem distantes
Teu miocárdio não aceleraria tuas reflexões
Mudando tua expressão no espelho da água
Enquanto estivéssemos aqui nesta banheira,
Com olhos concentrados, arrepiados.
Eu, não completamente nua
Embora apareça mais que um pássaro
E embora fosse dia nos países baixos
E noite sugestiva lá fora.
Quero tanto que limito o transparecer
Não consigo me libertar de segredos
Presos nas cordas vocais, cordas anímicas.
O tempo sempre escorre pelas escadas
E eu, nunca completamente nua
Mas tão tua.

Poema antigo,mas que traduz sentimentos.

Narrando estranhos

Ele levava uma vida digna. Para ser sincero, uma das vidas mais felizes que conheci, pois exercia da consciência plena do mundo exatamente como o era, cheio de minúcias problemáticas e degradação dos seres humanos, mas já tinha a sua modesta solução: a menina das tintas. Ela pintava tudo o que os olhos dele enxergavam, um universo inteiro na visão de uma jovem e sonhadora artista em pleno século XXI. Pintava suas bochechas quando queria ser índia e conhecer o passado que não lhe pertencia, pintava sua boca carnuda – se existem os olhos de ressaca da Capitu, a sua boca com certeza era a “boca de ressaca”: geralmente levemente molhada pela saliva e, quando seca, ficava vermelha e com aspecto assado, representando o inverno salgado depois das noites de verão -, pintava os dias de sol nas janelas e retratava como ninguém as suas melancolias em desenhos estilizados, com um toque de densidade e psicodelismo. Ela andava de calças largas, com os cabelos curtos bagunçados (quase sempre presos em um desconectado e apressado rabinho-de-cavalo), usava argolas pequenas de madeira escura nas orelhas e muitas pulseiras coloridas nos dois pulsos (sendo que todos os acessórios eram simplórios, provavelmente comprados no centro histórico da cidade, onde os indiozinhos, artesanalmente, moldavam a madeira e encaixavam as pedrinhas). Era naturalmente sexy, de um jeito difícil de explicar, já que o conceito de sexy tem se corrompido com o advento das panicats e das mulheres frutas. Mas o fato é que o olhar era leve e, ao mesmo tempo, intenso, a boca, grande demais para ser conservada estática, comumente encontrava-se semiaberta, sem que ela tivesse alguma intenção (só não queria lutar contra a gravidade o tempo inteiro), e então, os dentes brancos apareciam quase que por engano e observá-los era como estar recolhendo para si um segredo de alma.

segunda-feira, 2 de abril de 2012


"Durante a primeira metade da minha vida, fui minha própria criação. A partir de uma infância melancólica e isolada, moldei uma adulta vibrante e expansiva, com domínio superficial de uma dúzia de outras línguas, capaz de se aventurar pelas ruas desconhecidas de qualquer cidade estrangeira. Essa noção de que somos nossa própria obra de arte é muito norte-americana, como você se apressaria em ressaltar. Agora, minha perspectiva é europeia: sou um rol de histórias de outras pessoas, uma criatura das circunstâncias."
SHRIVER, Lionel. Precisamos Falar Sobre Kevin